quarta-feira, 21 de julho de 2010

Adorno leitor de Beckett


"[...] même l´abstraction de l´avant-garde qui révolte les petits-bourgeois [...] est le reflet de l´abstraction de la loi qui régne objectivament dans la societé. On pourrait démontrer cela à l´aide des oeuvres de Beckett. Elles connaissent aujourd´hui la seule gloire vraiment digne d´un être humain : tout le monde frémit d´horreur devant elles, et pourtant personne ne veut convenir que ses pièces et ses romans excentriques traitent de ce que chacun sait sans oser se l´avouer."


Theodor W. Adorno



Tanto na "música nova" de Schoenberg, quanto na literatura de Kafka e Beckett, o crítico Theodor Adorno via um ponto diretivo comum: a recusa firme e radical ao nefasto projeto de alienação promovido por uma arte perfeitamente ajustada ao sutil regramento do mercado e da produção. Tal recusa constitui, segundo o pensador frankfurtiano, uma ética profundamente engajada, comprometida ao extremo com um projeto estético bem diverso do mantido e propagado pelos estamentos sociais dominantes: o total repúdio às movimentações reificadoras do indivíduo implementadas pelo capital.

Adorno, com a impressionante (e iluminada) percepção característica de seu olhar sobre a arte de seu tempo, via no trabalho do poeta franco-irlandês Samuel Beckett uma real e corajosa incursão no núcleo dos tumores e cancros provocados com as desilusões da modernidade. Para Adorno, este ato avassalador de escancarar a angústia contemporânea, sem a mínima concessão à qualquer conceitual palatabilidade beletrística, faz de Beckett uma das vozes mais extraordinárias da história literária ocidental. Adorno via em Beckett, tal como em Shakespeare, retratos cruéis da aniquilação do indivíduo.

"Notes sur Beckett", publicação da Nous, traduzida por Christophe David e organizada por Rolf Tiedemann, traz apontamentos de leitura, notas em diário, escritos preparatórios para a redação de artigos, trechos de emissões televisivas e cartas de Adorno sobre a prosa becketiana, suas possibilidades interpretativas e seu legado. As intuições críticas do célebre filósofo alemão permitem uma incrível gama de perspectivas inéditas ante uma obra cuja pujancia artística não cessa de estimular.



Theodor W. Adorno
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