quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Leituras para o Ano: Viktor Vavitch

Em 2008, a maison Calman-Lévy disponibilizava ao público leitor de língua francesa um romance escrito nas primeiras décadas da Russia Soviética, ambientado durante a fatídica Revolução de 1905, condenado à incineração por ser considerado pela censura stalinista incoveniente e inútil, mas que devido a atuação iluminada de um imprimeur foi salvo da aniquilação, e que seria redescoberto no ocaso do século passado. Seu autor, um engenheiro químico originário de Novgorod, na juventude vivida durante a referida revolução, militava em grupos paramilitares judeus de auto-defesa, fabricando bombas e após os 40 anos, se consagrava como autor de obras para a juventude e récits de viagem.

Saudado por ninguém menos que Boris Pasternak como uma obra-prima, Viktor Vavitch de Boris Jitkov tem a mesma ambição e grandeza (temática, estilística, espiritual) de Guerra e Paz, de Tolstoi e de Vida e Destino, de Grossman. Escrito entre 1929 e 1934, o roman de Jitkov é um imenso mosaico, por onde inúmeros destinos se cruzam e se chocam, numa atmosfera tensa, permeada por esperanças perdidas e desconsolo, promessas messiânicas e ruína moral, desejo de construir um futuro livre de preconceitos e desespero diante de uma paisagem onde o obscurantismo e o terror mostram-se indestrutíveis.

Crônica sombria de um fracasso - certamente Jitkov não se referia apenas à revolução perdida de 1905! - Viktor Vavitch, com seus retratos das desventuras de gente comum totalmente impotente ante a razão totalitária, traz em seu cerne, um amargo manifesto contra a intolerância e as ilusões ditatoriais.

No ensaio de abertura da versão francesa do romance de Jitkov (já disponível em edição de bolso pela Livre de Poche), os tradutores Anne Coldefy-Faucard e Jacques Catteau, afirmam: Le "dernier grand roman russe", a-ton dit de Viktor Vavitch. Le dernier, en tout cas, à offrir cette écriture qui place la langue et la poésie au-dessus de tout, à l´instar des oeuvres d´un Gogol ou d´un Biély; le dernier représentant de ce début du XXe siècle où les créateurs, tel Zamiatine, aspiraient à réaliser la "synthèse des arts". Un livre d´emblée condamné, aussi, parce que écrit intempestivement, au moment où triomphait le "réalisme socialiste".

Paulo de Tarso, cujo dia de conversão é festejado pela cristandade neste mês, numa de suas célebres cartas aos fiéis de seu tempo, convida aos crentes à deixar a infância da fé, alimentando-se de nutrientes mais consistentes e firmes. O épico de Boris Jitkov é alimento sólido para quem deseja alcançar a maturidade. Se não na fé no Cristo, como poderia desejar o santo apóstolo, ao menos no espírito de resistência que pode fazer de nossa vida terrena um maravilhoso campo de batalha onde a estupidez e a violência dos poderosos são enfrentadas sem a mais remota possibilidade de trégua.


Boris Jitkov
Le Livre de Poche
de R$ 46,80
por R$ 37,44

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