segunda-feira, 12 de julho de 2010

Autópsia da Incomunicabilidade Humana


Inglaterra, 1170. Diante do altar de Cantuária, Tomás Becket, primaz dos ingleses, cai morto pelas mãos de aristocratas partidários do rei. Eram os dias de Henrique II, árduo defensor da supremacia monárquica sobre os privilégios da Igreja, precursor do absolutismo moderno. A morte do arcebispo, contudo, não significaria uma derrota do sacerdotium ante o imperium. O próprio incitador do assassinato, três anos mais tarde, junto ao túmulo do mártir, faria penitência pública, reconhecendo seu pecado e sua impotência diante dos caprichos do destino. É com a terrível cena deste ato penitencial - um homen nu, coroado, prestes a ser açoitado, junto à tumba - que Jean Anouilh abre uma de suas peças mais marcantes: "Becket ou l´Honneur de Dieu".

Anouilh não foi o primeiro a levar ao palco o martírio do santo saxão. Na década de 1930, T. S. Eliot se utilizava do tema para compor seu célebre "Murder in the Cathedral", que tal como o drama anouilhano, seria, anos mais tarde, levado ao écran.

Em Anouilh, a guerra travada entre a obstinação inconsequente do asceta da Cantuária em defender sua Igreja do voluntarioso centralismo normando serve como pano de fundo para uma impressionante autópsia da incomunicabilidade humana: entre o monarca e o religioso, mais que os próprios interesses, são as cáusticas intransigências mútuas que dão forma às atitudes e condenam o futuro. "Tragédia clássica" composta por um dos fundadores da dramaturgia moderna, "Becket ou l´Honneur de Dieu" constitui um verdadeiro "traité" do pensar teatral, referencial obrigatório aos amantes da cena e da literatura.

Organizada por Bernard Beugnot, a edição de "Becket" pertencente a coleção Folio Théâtre da maison Gallimard traz, entre outras coisas, trechos de entrevistas do dramaturgo acerca da peça e uma breve notice sobre sua trajetória nos palcos franceses.



Becket ou l´Honneur de Dieu
Jean Anouilh
Gallimard - Folio Théâtre
de R$ 29,12
por R$ 24,75

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