No século XVI, católicos e luteranos, com suas querelas em torno da concepção da graça divina, do status da Bíblia e da salvação, devastavam a Alemanha, em guerras absurdamente violentas. Contudo, um interesse comum os unia para uma luta num mesmo front: a eliminação dos anabatistas. Vigorosamente presentes nas revoltas camponesas da época, estes protestantes seguidores de Thomas Münzer, advogavam um certo comunismo tendo como fundamento a vida da igreja apostólica, com sua partilha coletiva dos bens e ideologia igualitária. Tendo a cidade de Münster como sua Jerusalém possível na Terra, o povo anabatista era a incômoda pedra nos confortabilíssimos sapatos dos príncipes e dos bispos germânicos. Da queda da Münster anabatista até os nossos dias, muitos autores - de Erasmo à Luther Blisset - se sentiram tocados pela saga e martírio destes loucos de Deus modernos.
Em 2010, os quadrinistas David Vandermuelen e Laurent Sautet - mais conhecido como Ambre - lançaram pela Six Pieds sous Terre, o maravilhoso Joss Fritz : La Passion des Anabaptistes. Stanislas Meullemans, em resenha publicada na Témoignage Chrétien no ano passado aponta que o mérito da HQ "ne consiste pas à nous faire comprendre un mouvement complexe mais à nous faire sentir une époque, et plus précisément un sentiment puissant qui traverse la société : l’angoisse." Angústia expressa num dramático preto-e-branco e numa estruturação gráfica onde se cruzam como referências a iconografia panfletária dos meios tipográficos reformados e a retratística dos contemporâneos de Lutero Holbein e Dürer.
Joss Fritz : La Passion des Anabaptistes David Vandermuelen * Ambre Six Pieds sous Terre
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