sábado, 30 de julho de 2011

A Lutécia Fervilhante de Heinrich Heine




O maior nome da poesia germânica do século XIX era também - e talvez isso explique sua verve poética iluminada - o mais francês dos literatos alemães. Radicado na França desde 1831, Heinrich - ou Henri - Heine foi um observador privilegiado de toda a efervescência estética e política da Paris da era das revoluções, verdadeira Meca para os liberais românticos da Europa, centro cultural do mundo civilizado. De 1840 à 1844, trabalhando como correspondente para um periódico de Augsburg, Heine, através de suas crônicas-reportagens, concebeu, para o deleite de seus compatriotas, um quadro vívido da realidade francesa pré-1848. Um testemunho marcante de um dos momentos mais dramáticos da história européia.


Lutèce : Lettres sur la Vie Politique, Artistique et Sociale de la France (La Fabrique - coleção Utopie et Liberté) traz 82 artigos do compositor de "Lorelei", organizados por Patricia Baudouin. Na apresentação da antologia, a organizadora oferece um amplo panorama biográfico de Heine e do contexto social da França sob Thiers e Guizot. O poeta se mostra atento aos passos do conservadorismo dos governantes, às modas artísticas, à insensibilidade estatal diante da miséria alarmante dos excluídos da "Era Industrial", à vida cotidiana, aos reprimidos movimentos de emancipação. Não deixando de expressar seu desconforto e preocupação com os petits Napoleões do momento, Heine escancarava suas posições democráticas e seu engajamento por uma sociedade verdadeira e substancialmente justa. Devido a isso, Baudoin chama o conjunto dos textos jornalísticos do poeta de chronique visionnaire do mundo de seu tempo.



Sua leitura não deixa de evocar a obra de um outro alemão, que tal como Heine, era de origem judia, partilhava das idéias hegelianas sobre a evolução da história e vivera parte de seu exílio no Héxagone: o livro é As Lutas de Classe na França (versão francesa por Maximilien Rubel - Éditions Gallimard); o patrício referido é Karl Marx. A lucidez de Heine, apesar de sua firme convicção nos ideais iluministas não o privava de um certo pessimismo diante das situações políticas retratadas. A França se apresentava cada vez mais suscetível à sanha de poder dos oportunistas, fato que se confirmaria com a irresístivel subida do sobrinho do Empereur ao poder anos mais tarde.





Lutèce : Lettres sur la Vie Politique, Artistique et Sociale de la France Henri Heine La Fabrique - Utopie et Liberté


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